sexta-feira, 12 de julho de 2013

Caso de criança morta em ritual de magia negra completa um ano e responsáveis ainda não foram julgados


A morte do garoto Flânio Macedo expôs o fanatismo religioso e a falta de limites da maldade humana. Fotos: Ney Lima, Elivaldo Araújo, Thonny Hill, Eliel Antônio, Sidney Lima e Fernando Lagosta.

Exatamente nesta semana, mais precisamente na quarta-feira (10), completou um ano do caso acontecido em Brejo da Madre de Deus e que chocou todo o país: a morte, em um ritual de magia negra, do garoto Flânio da Silva Macêdo, de nove anos e que residia no distrito de São Domingos.

Relembre o caso

Corpo do garoto foi encontrado decapitado e sofreu de violência sexual antes da morte.

O garoto, segundo relato de familiares, desapareceu no dia 01 de julho de 2012 após ter saído de casa escondido da mãe, a senhora Luzinete Amara da Silva, para carregar fretes na feira livre.

Ainda pequeno, o garoto sempre quis ajudar nas despesas de casa e também, segundo amigos, queria economizar dinheiro para comprar uma bola de futebol.

Foi então que, a contragosto de sua mãe, conseguiu uma carroça de mão emprestada para carregar fretes e, como Luzinete não queria que ele trabalhasse dessa forma, o proibiu, de acordo com o depoimento de Laudenira Ribeiro da Silva, tia da vítima e que relatou como era o dia a dia de Flânio.

“Ele vivia da escola para casa e de casa para a escola. Era um menino trabalhador e só queria ajudar a família”, afirmou Laudenira na época.


Nove dias depois do desaparecimento, o corpo de Flânio foi encontrado nu, com os pés e mãos atados, decapitado e em avançado estado de decomposição, na entrada do sítio das camarinhas.

Ao lado do corpo, havia utensílios que comprovaram, posteriormente com as investigações, à prática do ritual de magia negra. Entre eles havia bonecos vodu e uma guidá de barro (usada para aparar o sangue da criança), além de garrafas de bebida, ramalhetes de flores e ossos de animais.

No vídeo abaixo, mostra uma matéria feita pelo jornalismo da TV Record em que câmeras de segurança captam os últimos momentos do garoto, acompanhado de Genival, um dos assassinos.


Matéria em vídeo veiculada no blog Sulanca News sobre o caos generalizado em São Domingos:


Grande operação policial foi mobilizada para prender os quatro envolvidos no crime macabro


Edilson da Costa Silva, Ednaldo Justo dos Santos (“Pai Nal”), Genival Rafael da Costa e sua esposa Maria Edileuza ainda aguardam julgamento.
No dia seguinte a descoberta do corpo (11 de julho), duas pessoas se entregaram na delegacia de São Domingos, temendo ser linchadas com a repercussão do crime.

Tratavam-se do casal Genival Rafael da Costa (conhecido como “Pai Véi”), acompanhado de sua esposa Maria Edileuza. Com a prisão dos dois, houve uma verdadeira mobilização popular em frente à delegacia de São Domingos.

No dia em que dois dos quatro envolvidos se entregaram, milhares de pessoas aguardavam do lado de fora da delegacia de São Domingos.

Milhares de pessoas se posicionaram em frente à delegacia e, por várias vezes, ameaçaram invadir o local, sendo registrados vários tumultos e a força policial foi usada para impedir os mais exaltados de invadir a delegacia.

Polícia fez o uso da força para dispersar os mais exaltados.

Pouco tempo depois, parte da multidão se dirigiu a residência onde o Pai de Santo morava na Rua São Damião e promoveu um verdadeiro quebra-quebra na casa, que havia em seu interior imagens religiosas, brinquedos infantis, CDs e DVDs de artistas prefeitos pelo público infantil e adolescente, além de fotos de várias crianças.

Residência de Genival e Edileuza foi a primeira a ser destruída, revolta que causou caos generalizado em São Domingos e em outras cidades pernambucanas.


Tudo foi destruído e o reflexo disso foi uma verdadeira caçada nos dias seguintes a todo e qualquer local que praticava religiões afro-brasileiras e até centros espíritas, fato que repercutiu em outros municípios vizinhos e chegou até a cidade de Olinda.

Templo espírita no bairro do Santo Agostinho também foi praticamente destruído.


Os outros envolvidos no crime, o pai de santo Ednaldo Justo dos Santos (“Pai Nal”) e Edilson da Costa Silva, também foram presos no mesmo dia e ambos confessaram a polícia que praticaram relação sexual com a criança, antes de a mesma ser morta.

Os quatro foram apresentados em uma coletiva de imprensa realizada na Delegacia Regional de Caruaru, em 13 de julho.

Coletiva de imprensa realizada em Caruaru revelou ainda mais detalhes do caso.

Detalhes macabros do crime que chocou a população


De acordo com a polícia, a criança foi morta com um grande corte no pescoço, feito com uma faca peixeira. Após ter seu sangue aparado na guidá de barro, foi feito um torniquete feito no pescoço, com uma flanela e um pedaço de madeira, que foi apertado com tanta força até que a cabeça se separasse do restante do corpo. A criança estava de cabeça para baixo quando teve o pescoço cortado.

Antes de morrer, a criança foi vítima de violência sexual pelos três homens envolvidos no crime e teria pedido diversas vezes para não morrer, fato comprovado no ato da reconstituição.

A possibilidade de um suposto quinto integrante, que teria encomendado o “Ritual de Retorno” pela quantia de R$ 1500,00 também foi levantada, mas até agora nada foi provado.

Reconstituição mobilizou uma verdadeira força-tarefa

Maria Edileuza foi a única a participar da reconstituição do crime na época.

No dia 25 de julho de 2012 foi realizada a reconstituição do crime e apenas Maria Edileuza, esposa de Genival esteve presente.

Naquela época, foram revelados detalhes na participação de cada um dos envolvidos e uma verdadeira força-tarefa foi mobilizada, com dezenas de policiais.

A área foi completamente isolada e foram montados bloqueios a 500 metros do local da reconstituição.

Perita Dra. Vanja Coelho revelou ainda mais detalhes após a reconstituição do crime.
Apenas a imprensa foi permitida de entrar na área isolada e esperou até as revelações da perita Dra. Vanja Coelho, que acompanhou o caso.

“A criança, a essas alturas, acredito que já estivesse morta. A criança foi levantada, segurada pelo Edinaldo e pelo Genival. O Genival amarrou uma flanela, de cor verde-limão e produziu várias voltas como se fosse um torniquete até que a cabeça, já vulnerabilizada pelo grande corte que sofrera pela peixeira, ela se desprendeu do tronco, da sua cervical”, afirmou.


Local onde a criança foi morta e, ao fundo, pedaço da guidá usada para aparar o sangue do garoto.

Um ano depois, envolvidos ainda aguardam decisão definitiva da Justiça


Dr. Antônio Dutra chefiou toda a operação na época.
Em reportagem veiculada no blog Agreste Notícias sobre o caso, foram entrevistados o delegado Dr. Antônio Dutra (que chefiou o caso) e também a mãe da vítima, Luzinete Amara da Silva.

De acordo com Dr. Antônio Dutra, os criminosos podem ser julgados ainda este ano e, possivelmente, serão aplicadas as penas máximas, que podem chegar a 30 anos de reclusão em regime fechado.

Possibilidade de quinto envolvido está praticamente descartada


Ainda de acordo com a entrevista, o delegado afirmou que a hipótese de um quinto envolvido, supostamente o mandante do crime, está praticamente descartada.

“Na época nós chegamos até rastrear onde ele estaria; sendo até ventilado o nome de “Erismar”, mas com o andar das investigações, tornou-se pouco provável a participação de outro envolvido, todavia que nós revertemos para a justiça para ser dada continuidade (da investigação). Na minha opinião, os quatro sim foram os que provocaram esse crime, (motivado) por crenças que eles têm, que não sei quais são, quando se sacrificam vidas humanas, mas enfim, por pura maldade deles. Não acredito mais na participação de um quinto elemento”, disse o delegado.

“Quero que eles paguem. Esse tempo sem meu filho tem sido triste”, relatou a mãe do garoto


Traumatizada, mãe da criança só dorme as noite com auxílio de medicamentos. Foto: Blog Agreste Notícias.

Na entrevista, Luzinete Amara da Silva, que vive hoje em um sítio com o marido e mais dois filhos, relatou como é sua rotina após o fatídico caso.

“Na hora que estou comendo, me lembro dele. Quando vou dormir, só consigo se tomar remédios, pois não consigo mais dormir. A saudades é muito grande, não me esqueço dele, o que fizeram com ele, quero que eles paguem. Esse tempo sem meu filho tem sido triste”.

A mãe do garoto também relatou que se sente abandonada pela justiça e que não sabe as quantas anda o processo, temendo que os envolvidos sejam soltos.

“Eles calaram-se, não me disseram mais nada. Fico sem ter nenhuma informação sobre o caso”.

Luzinete também relatou que espera o filho retornar, mesmo com todas as evidencias atestando que o garoto está morto.

“Até hoje tenho esperanças que ele não morreu, que ele tá vivo e um dia ele vai chegar, ele tá viajando, alguém levou ele, mas ele vai voltar, mais cedo ou mais tarde ele volta”, pontuou.


fonteBLOG DO NEY LIMA
Na imagem, dois dos envolvidos no crime brutal. "Pai Nal" (sentado) e Edilêuza (de joelhos) praticam um dos rituais que usam animais como oferendas.